Cuidar do que é meu


Descobri minha gravidez assim, no susto. Não foi uma gravidez planejada, então desde o começo eu sabia que nem todas as coisas seriam exatamente da forma como planejei e uma delas foi continuar morando com meus pais. Quando descobrimos a gravidez o pai da Alice sugeriu que morássemos juntos, mas não era a hora, nós dois sabíamos disso; estaríamos dando mais esse passo sem planejamento, apenas por causa dela, então preferi continuar na minha casa (e não, não me arrependo nem um minuto dessa decisão).

O único porém é que eu sempre fui uma pessoa totalmente individualista, e depois do nascimento da Alice, isso não mudou. Sempre fui metida a independente, então ter filhos e continuar dentro da casa dos meus pais estava me deixando muito chateada, porque se é complicado demais entrar em acordo com o pai da criança quanto a forma de educar, a forma de cuidar, imagine com os avós dando pitacos, se intrometendo?

Porém como continuar morando dentro da casa dos meus pais era a única solução, eu precisei assumir uma postura mais individualista ainda: quem cuida da minha filha sou eu! Desde o início, deixei bem claro que todas as responsabilidades da Alice seriam minhas e que eu não queria ninguém para me ajudar com os cuidados dela, a não ser o pai dela. Então banho, troca de fraldas, fazer dormir, sempre foram tarefas MINHAS, desde o primeiro dia.

Claro que gosto de contar com o carinho da família toda - tanto minha quanto do pai dela - mas gosto de deixar bem claro e bem definido que mãe é mãe, pai é pai e avós são avós. Cada um tem sua função. A minha, juntamente com o pai dela, vai desde a troca de fraldas, alimentação até ensinar e transmitir valores.

Meu pai mora em outra cidade durante a semana e minha mãe só chega em casa a noite, portanto fico sozinha com ela o dia todo, e isso ajuda a evitar que passem dos limites nos cuidados com ela. Além disso não deixo Alice sozinha, por mais de uma hora, com ninguém. E acho que isso foi a melhor coisa que fiz.

Claro que no começo eu sentia medo, tinha algumas dúvidas, mas meti a cara e fiz sozinha. Se não fizesse, ia aprender como? Eu tinha vontade sim de perguntar a alguém com mais experiência, pedir uma ajudinha, mas me controlava e agia do meu jeito, de acordo com os meus insitintos maternos - e a nossa natureza é mesmo muito sábia, não é mesmo?

Nos primeiros dias era mais complicado, confesso. Mas esse intensivão, me fez pegar a manha da maternidade, fez com que eu conhecesse realmente a minha filha. Então hoje eu sei quando o choro irritado é sono, sei que quando ela resmunga depois de mamar é porque vai voltar leite, sei quando ela quer colo... E agradeço por isso, por estar conseguindo ter essa independência ao cuidar da minha filha, mesmo morando com meus pais.

Alice é muito boazinha (o que, acredito, facilitou muito para que eu desse conta sem grandes ajudas), nunca teve cólica, brinca sozinha por bastante tempo, mama muito bem, tem um padrão de sono regular durante o dia e dorme a noite toda desde que completou 2 meses. Mas mesmo assim ainda acho que não é o momento de deixá-la com alguém para retomar parte da minha vida de antes.

Em janeiro, retomo a faculdade. Preferi o período da manhã ao da noite, para evitar que ela ficasse com a minha mãe. Porém mesmo tomada essa decisão minha sogra se dispôs a ficar com ela, mas já agradeci e recusei. Alice vai para a creche meio período, assim evito qualquer intromissão, qualquer postura que seja diferente da minha como mãe e não delego funções MINHAS para outras pessoas.

Acho importantíssimo essa minha dedicação a maternidade. Acho que cresci muito me dedicando integralmente a cuidar dela, acho que precisava passar por isso, mesmo porque não troco cuidar dela por nada, eu realmente gosto da maternidade e de todo pacote que veio junto com ela, de toda essa responsabilidade.

Não estou criticando e nem querendo ensinar ninguém o jeito de cuidar e criar seus filhos. Cada um sabe a necessidade de se trabalhar fora, de ter uma ajuda aqui, outra ali. O texto é simplesmente baseado no que eu vivo, no meu modo de cuidar da minha filha.

A pressão pela perfeição

Li em algum lugar que, de acordo com um estudo britânico, mães tendem a omitir fatos sobre a forma de criar seus filhos. O motivo seria a pressão sofrida na busca pela perfeição, o medo de ter seu desempenho como mãe julgado. Elas não se sentiam a vontade para revelar a quantidade de horas que os filhos passavam na frente da TV, as dificuldades em educá-los, o que eles realmente comiam.

É complicado, eu sei. Toda mãe se sente forçada a estar dentro do padrão idealizado de maternidade. Que hoje é a mãe natureba. É ter o filho de parto humanizado, é ter que amamentar exclusivamente e em livre demanda durante 06 meses, é abominar a idéia de "terceirizar" a educação, é só usar fraldas de pano, é selecionar músicas e desenhos que nossos filhos podem assistir. 

Claro que todo mundo quer e busca o melhor para nossos filhos. Isso é indiscutível. Mas essa pressão velada de algumas mães acaba fazendo com que a gente tente cada dia mais se adequar a esse mito da perfeição, a se comparar e buscar estar dentro das regras e padrões de comportamento para ser mãe.

A maternidade é real. E ela tem que ser possível. Ser mãe é sempre estar em busca do melhor, é aprender, é perguntar, é questionar, seja o obstetra, seja o pediatra, é se adaptar, é se dedicar. Mas é aquele papo, de que cada um sabe onde seu calo aperta, é possível condenar uma mãe por não agir de acordo com o esperado? Mesmo porque as famílias não são iguais, as criações não são as mesmas, porque a necessidade de um bebê seriam as mesmas que a de outro bebê, com realidades opostas? 

Acho que cada mãe tem que ter sim seu direito de escolha preservado, respeitado. Mesmo porque algumas situações não medem e nem dizem respeito ao amor sentido pelo filho. Então entre erros e acertos, cada mãe faz o melhor que pode. Eu faço o melhor que posso. 

A gente tem que parar de se cobrar tanto, de se julgar tanto. A gente não está competindo com ninguém, além de nós mesmas. Por isso hoje eu busco o melhor para a Alice dentro da minha realidade, dentro das minhas possibilidades. Deixei pra lá essa busca louca e desenfreada pela perfeição, mesmo porque o conceito de perfeição é discutível, o referencial muda, o que é perfeito pra você pode não ser perfeito pra mim, então aqui estou:A sendo a melhor mãe que eu posso ser.

O (re)começo.


– Pode dizer-me que caminho devo tomar?
– Isto depende do lugar para onde você quer ir.
(respondeu com muito propósito o gato)
– Não tenho destino certo.
– Neste caso qualquer caminho serve.
(“Alice no País das Maravilhas” – Lewis Carrol)


E como surgiu a ideia de fazer um blog? Quando me descobri grávida ainda não conhecia o enorme universo materno que existe aqui na internet, criei o Cores da Mamãe apenas como forma de desabafar e deixar registrado as sensações e emoções de cada descoberta e novidade da gravidez para que lá na frente eu possa ler e relembrar cada detalhe e quem sabe um dia mostrar para Alice. Durante todo esse tempo eu consegui através do Cores da Mamãe compartilhar com algumas pessoas um pouco de tudo que passei, da minha vivência, da minha experiência como mãe, da minha realidade... Porém com o enorme número de pessoas má intencionadas na internet acabei me sentindo vulnerável demais, o que fez com que eu avaliasse cada post meu, cada foto e comecei a ver o quão exposta eu e a Alice estávamos. A princípio tinha pensado em apagar algumas coisas, mas acabaria perdendo dados, informações, registros importantes, então achei melhor fechar o antigo blog e imprimir todos os posts em forma de livro e deixar guardado aqui em casa, apenas para nós. Porém essa blogosfera materna é muito bacana, é aqui que a gente consegue compartilhar, trocar experiências, participar, ajudar, aconselhar, conviver com pessoas e culturas diferentes. Essa troca é muito positiva e eu não poderia deixar de estar presente e aprender - e quem sabe ensinar - um pouquinho mais a cada dia, então assim surgiu o Mamãe no País das Maravilhas.

E por que desse nome? Como não poderia ser mais óbvio, minha filha se chama Alice. Justamente pelo desenho do Lewis Carrol, bem antes do filme do Tim Burton. Sempre fui uma grande fã da temática confusa repleta de alusões satíricas. Além é claro das suas cores vibrantes e personagens emblemáticos. Quando criança me acabava ao assistir o desenho ou ler o livro e tinha uma visão totalmente diferente da que tenho hoje, e isso fez com que eu me apaixonasse ainda mais pela história, afinal é maravilhoso poder ler em diferentes fases da vida, sobre diferentes perspectivas e ambas te proporcionarem uma grande aventura. Depois de adulta, vejo que Alice imprime a nossa vida de forma abstrata, com angústias, mudanças, fazendo com que a gente se identifique com capítulos, personagens... Então quando descobri que seria mãe de menina, não poderia sequer cogitar outro nome para minha filha a não ser Alice. Então ao criar esse novo blog, convido vocês a entrarem e conhecerem o nosso País das Maravilhas. Sejam bem vindas!

Volver al inicio Volver arriba Mamãe no País das Maravilhas | Design e programação por Design Burguês | Mantido por Yasmin Scanarare.